24 março 2010

“Damas da esquerda” ganharam eleições regionais em França



Marie-George Buffet, Martine Aubry e Cécile Duflot

Confirmando as expectativas, os franceses foram este domingo às urnas depositar um voto de protesto contra o Presidente Nicolas Sarkozy, e a vitória da esquerda na segunda volta das regionais só não foi total porque a UMP conseguiu manter a Alsácia. Um resultado que torna inevitável a anunciada remodelação governamental e reforça os socialistas e em particular a sua líder, Martine Aubry, na corrida às presidenciais de 2012.

“A esquerda confirma a sua supremacia”, titulou a edição online do Le Point mal as urnas fecharam e foram conhecidas as primeiras projecções. A coligação das “Damas de Esquerda” – nome com que a imprensa baptizou a aliança entre o PS, os Verdes de Cécile Duflot e os comunistas de Marie-George Buffet – obteve o apoio de 54 por cento dos eleitores, mais sete pontos percentuais do que o total de votos conseguidos pelas três formações na primeira volta, uma semana antes.

“O resultado desta noite confirma o sucesso das listas de esquerda e constitui uma decepção para a maioria”, admitiu o primeiro-ministro, François Fillon, que assumiu a sua “quota de responsabilidade” na derrota.

Apesar dos esforços de mobilização da última semana (a taxa de abstenção caiu para os 49 por cento), a UMP e aliados não foram além dos 36 por cento de votos e perderam a Córsega, uma das duas regiões que a direita ainda controlava. Mas evitaram o seu desaparecimento do mapa regional – o "grand slam" ambicionado pela esquerda –, ao reeleger Philippe Richert na Alsácia e ao “roubar” à esquerda a ilha de Reunião, um dos quatro territórios ultramarinos franceses.

Última votação nacional antes das eleições de 2012, as regionais eram vistas como um importante barómetro para Sarkozy, penalizado pelo aumento do desemprego e pelo desastroso debate sobre a identidade nacional e a imigração.

Para travar a fuga de votos, o Presidente prometera já uma desaceleração no ritmo das reformas e Claude Guéant, secretário-geral da presidência, confirmou que serão retiradas consequências deste “resultado decepcionante”. Amanhã de manhã Sarkozy vai reunir-se com o primeiro-ministro para discutir uma “remodelação técnica” do executivo. Guéant garantiu, porém, que o lugar de Fillon não será posto em causa.

Mas a esquerda, a saborear a sua primeira grande vitória em vários anos, exige que o Governo vá mais longe. “Os franceses rejeitaram a política do Presidente. Ouvi-los significa mudar profundamente de política”, declarou Aubry, que prometeu gerir “com responsabilidade” a confiança dos eleitores.

A líder socialista viu sancionada a sua estratégia de aliança à esquerda e, depois de ter reorganizado o partido, ganha terreno na corrida interna à candidatura presidencial. Pela frente, deverá ter Ségolène Royal, derrotada por Sarkozy em 2008, mas que se reafirmou ontem como um valor para os socialistas, ao reconquistar a presidência da região de Poitou-Charentes, com 61 por cento dos votos.

Também a Frente Nacional tem razões para estar satisfeita. Obteve 8,7 por cento dos votos a nível nacional, apesar de ter conseguido passar à segunda volta em apenas 12 regiões, e subiu mesmo para 22 por cento a sua votação na região norte, uma das mais afectadas pela crise económica.

Artigo do Público online de 21.03.2010

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