A minha intervenção na sessão solene comemorativa do dia nacional de prevenção e segurança no trabalho que se realizou a 29 de Abril de 2013 na Sala do Senado da Assembleia da República.
28 de Abril
Dia Nacional de
Prevenção e Segurança no Trabalho
Dia Mundial da
Segurança e Saúde no Trabalho
Fernando
Gomes
Membro da Comissão Executiva da
CGTP-IN
Departamento de Segurança e Saúde no
Trabalho
Sr. Secretário Estado do
Emprego,
Srs. Deputados,
EXmo. Sr. Inspector-Geral do
Trabalho,
Sra. Directora do Escritório
da OIT,
Representantes dos Parceiros
Sociais,
Minhas senhoras e meus
senhores,
Assinalamos
hoje mais um 28 de Abril.
Se dúvidas
houvesse sobre a importância do trabalho na área da Segurança e Saúde no Trabalho,
a necessidade da prevenção, a necessidade da actuação da Inspecção do Trabalho
na fiscalização das condições de trabalho no nosso país, a realidade, os
factos, a dureza dos acontecimentos dissipariam qualquer interrogação sobre o
assunto.
Ontem
mesmo, 28 de Abril de 2013, Dia Nacional de Prevenção e Segurança no Trabalho, a
explosão seguida de incêndio numa fábrica da zona de Setúbal provocou 3
feridos, dois dos quais, segundo informações da comunicação social, em estado
grave.
Aproveitamos
este momento para lamentar a morte de tantos trabalhadores, homenagear as
vítimas dos acidentes de trabalho, as suas famílias, amigos e reafirmar que os
custos dos acidentes de trabalho, as suas consequências para o Estado e para as
empresas a todos nos afecta.
Ao
longo dos anos, temos afirmado a necessidade de serem tomadas medidas efectivas
de prevenção dos acidentes de trabalho e das doenças profissionais; temos
preconizado que a ACT e o Ministério Público devem trabalhar em conjunto, de
forma a que as acusações contra quem prevarica e não cumpre a legislação sejam
criminalizadas. Não podemos continuar a permitir que a vida dos trabalhadores
seja posta em causa por falta de segurança nos locais de trabalho. Um
permanente combate aos infractores e a quem, sem escrúpulos, continua a colocar
em risco a vida dos trabalhadores deve ser uma prioridade.
Num
tempo de retrocesso social e económico, onde a segurança e saúde no trabalho é
considerada um custo e não um investimento, é altura de mudarmos de atitude
face a este problema. A adopção da precariedade como característica
generalizada do emprego e o ataque permanente aos direitos dos trabalhadores
terão consequências na sinistralidade e na mortalidade ligadas ao trabalho.
Em
Portugal, segundo os números revelados pela ACT, onde não contam as mortes
ocorridas depois da ida aos hospitais, houve em 2011 e 2012, respectivamente,
161 e 149 acidentes de trabalho mortais. Aparentemente, a descida poderia ser
considerada positiva (apesar de considerarmos que nada haverá de
positivo enquanto houver uma morte por acidente de trabalho), mas
fazendo uma leitura mais atenta, temos que ter em conta que, no mesmo período,
faliram 4523 empresas em 2011 e 6281 em 2012 e foram destruídos mais de 202 mil
postos de trabalho, tendo ainda presente a significativa quebra da actividade
económica que ocorreu nestes anos.
Quanto
às doenças profissionais e segundo um relatório divulgado recentemente pela OIT,
estima-se que morrem seis vezes mais pessoas do que pelos acidentes de
trabalho.
Ao
contrário de outros países que começam a integrar e a estudar a integração dos
problemas psicossociais no rol das doenças profissionais, o governo português,
no seu típico desinteresse por tudo o que é humano e social, continua a
assobiar para o lado, fingindo não ver que o resultado das suas políticas
económicas e sociais produz resultados nefastos em matéria de saúde mental.
Lembramos
que com a degradação progressiva das relações de trabalho, patente através da
desvalorização do papel dos sindicatos e dos parceiros sociais, em geral, ou
através da produção (esta sim, profícua) de legislação laboral que agrava
profundamente os desequilíbrios estruturais em matéria de prevenção e segurança
no trabalho; o ataque do governo e a desvalorização da acção da ACT, através de
alterações legislativas que enfraquecem o seu poder de fiscalização e intervenção
e da redução do orçamento para a prevenção e promoção das condições de
trabalho, o governo diminui profundamente a capacidade de resposta da ACT aos
muitos pedidos de inspecção, deteriorando ainda mais as condições de trabalho
em Portugal.
É inaceitável
a desvalorização do papel da ACT. Consideramos essencial a dignificação do
papel dos Inspectores do Trabalho e o reforço dos meios administrativos e
técnicos para o apoio à acção inspectiva.
De
igual modo, chamamos a atenção para os atrasos que se verificam na ACT no que
respeita à aprovação dos projectos na área da prevenção e promoção da segurança
e saúde no trabalho, o que coloca em causa o trabalho desenvolvido na área da
sensibilização e formação que os parceiros sociais, nomeadamente a CGTP-IN,
desenvolvem por todo o país. Segundo os dados, a CGTP-IN é responsável pela
eleição de 85% dos eleitos para representantes dos trabalhadores em SST e não
aceitamos que este trabalho seja posto em causa pela falta de meios da ACT para
aprovação em tempo útil das candidaturas.
A
formação que desenvolvemos faz parte do nosso plano de prevenção em segurança e
saúde no trabalho que todos consideramos essencial.
Apesar
dos problemas existentes, muito foi até hoje alcançado, muitos progressos se
fizeram e, por isso, a CGTP-IN tem a convicção de que a resolução dos problemas
estruturais em matéria de prevenção e a inversão da tendência actual de
degradação das condições de trabalho serão alcançadas pela luta dos
trabalhadores por melhores condições de vida e de trabalho. Nesse sentido, a
CGTP-IN assinala este dia como o dia em que pode e deve renascer a esperança de
uma nova visão sobre o problema. Uma visão humanista, humanizadora, democrática
e que coloque o ser humano no centro da actividade política, económica e
social.
Muito
Obrigado.
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