03 abril 2010

Pousada de Sousel sem perspectivas de reabertura


por CATARINA CRISTÃO

Diário de Notícias
02.04.2010

"A Pousada de São Miguel, em Sousel, fechada para obras desde Novembro, deixou de estar classificada como Pousada de Portugal no final de Março. O estabelecimento foi entregue à Enatur, Empresa Nacional de Turismo SA, a 1 de Abril, e chegou a falar-se em encerramento - situação que o presidente da Câmara de Sousel, Armando Varela, e a Comissão de Trabalhadores das pousadas contestam. Apesar de ainda não existir solução, o Grupo Pestana, que gere a rede Pousadas de Portugal desde 2003 e que no ano passado inaugurou mais três no País, desdramatiza.

"O estabelecimento hoteleiro a que corresponde a Pousada de São Miguel, em Sousel, não será encerrado. Apenas deixará de ser explorado como pousada e passará a hotel", responde Leonor Costa, da Pestana Turismo.

Não se sabe ainda é por quem. Armando Varela diz estar a "fazer todos os possíveis", mas a solução ainda não foi encontrada. "Tenho reunido com várias entidades de forma a encontrar uma nova estrutura accionista para exploração", adianta o autarca, lembrando a importância de manter a pousada aberta e os postos de trabalho, directos e indirectos, numa região do interior alentejano já de si debilitada.

A Pousada de São Miguel, construída em 1993, está classificada como Pousada de Natureza e foi a primeira unidade hoteleira de turismo cinegético (caça) do País. O Grupo Pestana justifica o fim da sua exploração com os maus resultados dos últimos anos. "O contrato de cessão de exploração permite-nos a cessação da exploração de pousadas não históricas nos casos de exploração deficitária consecutiva", explica Leonor Costa, evocando um decréscimo da actividade turística nos últimos anos.

Já Armando Varela tem dúvidas de que o Grupo Pestana "tenha feito tudo para revitalizar a pousada". O DN chegou à fala com um antigo trabalhador do estabelecimento hoteleiro que confirma que o número de clientes foi diminuindo, "mas que isso ficou a dever-se também a má gestão". "Não se pode pôr um café a três euros num local remoto, no meio do campo, e esperar que os clientes apareçam e paguem preços tão exorbitantes", conta João B., de 40 anos, que durante 17 trabalhou na recepção da pousada.

João despediu-se há um ano porque "não aguentava a pressão". "O objectivo deles é o lucro, por isso obrigam as pessoas a fazer o trabalho de duas ou três. O que eles queriam era que nós rescindíssemos os contratos." E foi o que acabou por fazer: "Saí com uma mão à frente e outra atrás, sem indemnização, e uma grande depressão. Nunca mais consegui arranjar emprego."

Já Fernando Gomes, presidente da Comissão de Trabalhadores das Pousadas, vai mais longe e acusa o Grupo Pestana de estar a promover, em todo o País, uma "campanha de atropelamento" dos direitos dos trabalhadores. "O encerramento de algumas pousadas, com a justificação de obras ou de época baixa, tem semeado um clima de terror [ver pág. ao lado] e obrigado muitos dos trabalhadores a deslocarem-se centenas de quilómetros para continuarem a trabalhar", adianta o presidente da comissão.

Margarida, de 36 anos, está de baixa psiquiátrica há três meses. "Toma imensos comprimidos e já chegou a falar em suicídio", conta o marido, António. Em causa estaria a transferência da cozinheira de Estremoz para Queluz, devido ao encerramento temporário daquela pousada. "Queriam obrigá-la a ir para longe, mas não lhe pagavam alojamento nem deslocações, nem lhe davam folgas, para poder vir visitar a família", acusa António, garantindo que "já tentaram coagi-la a despedir-se. Mandam as pessoas para muito longe sem pensarem nas famílias e sem apoios. Quem não aceita, leva com um processo disciplinar ou rescinde amigavelmente, sem indemnização, para ter direito pelo menos ao subsídio de desemprego", diz Fernando Gomes.

Já Leonor Costa garante que "não houve e não há qualquer pressão sobre os trabalhadores, apenas o estrito cumprimento de regras estabelecidas e acordadas entre ambas as partes". Isto porque, diz a responsável, "está em vigor um acordo que prevê a deslocação temporária de trabalhadores, por períodos até 36 meses, sempre que a unidade suspenda a sua operação por motivos de obras ou a transferência definitiva em determinadas condições"."

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